Um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Radioterapia aponta que, atualmente, 21 instituições de saúde nas redes privada e pública realizam radioterapia no Rio Grande do Sul. O tratamento, que consiste na utilização de radiações para destruir ou impedir o crescimento de tumores malignos ou benignos, é ofertado em dois hospitais aqui na cidade, sendo um deles o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm).
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Referência no tratamento contra o câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para mais de 40 municípios gaúchos, a instituição vive uma situação crítica nos últimos meses com o aumento dos atendimentos e uma fila de espera, que chega a 100 pessoas. Para lidar com a demanda, o hospital, que já tem um acelerador linear de radioterapia em funcionamento, recebeu um segundo equipamento, licitado pelo governo federal e importado dos Estados Unidos, há quase três meses.
Embora a expectativa seja aumentar a capacidade de atendimento o mais rápido possível, o Husm precisa aguardar por uma série de etapas para que possa de fato colocar o acelerador linear em funcionamento.
Lista de espera
Após sentir fraqueza nas pernas e dores abdominais em março deste ano, Maria Augusta Franco, 69 anos, recebeu o diagnóstico de tumor cerebral. Conforme a filha, a fonoaudióloga Carla Hoffmann, 35 anos, o caso foi avaliado como cirúrgico, não tendo oportunidade de outro tipo de tratamento. No mês seguinte, a moradora de Santa Maria foi encaminhada para o Hospital Regional, onde realizou uma cirurgia para retirada de um tumor. Com o resultado da biópsia, ela acabou sendo encaminhada ao Husm para fazer sessões de radioterapia.
No início de agosto, Carla e Maria Augusta foram ao setor de radioterapia do hospital. No local, elas foram informadas por uma funcionária sobre a lista
de espera e a existência de um segundo equipamento de radioterapia em não funcionamento. Mesmo com a previsão de início das sessões em 6 semanas, Carla lamenta a situação:
– A mãe deveria iniciar a radioterapia e a quimioterapia o quanto antes, pois o tumor dela é muito agressivo. Temos a expectativa que inicie logo para todos que estão nessa lista de espera.
Cronograma
Referência para 43 municípios gaúchos, os encaminhamentos de pacientes para o Husm ocorrem pelo Sistema de Gerenciamento de Consultas (Gercon), sendo que “a lista de espera é de responsabilidade da Secretaria Estadual da Saúde”, segundo o hospital. Em nota, a instituição explicou o cenário atual e as decisões tomadas até o momento:
“O Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) comunicou a Coordenadoria Regional de Saúde (4ªCRS), em abril deste ano, que está trabalhando acima da capacidade instalada na oferta de radioterapias. O hospital tem contratualizado com o Estado o tratamento de 40 pacientes ao mês e chegou a atender 54. Atualmente, há cerca de 100 pessoas na fila de espera. Diante do aumento da demanda, o Husm bloqueou as chamadas de primeiras consultas de pacientes em tratamento em outros municípios e priorizou os pacientes acompanhados no hospital. No início deste mês, iniciou o chamado terceiro turno, ampliando o atendimento que era das 7h às 19h, para até 22h. Contudo, terá condições de atender cerca de 30% dos pacientes em lista de espera, além do quantitativo que já atende. Cabe a Secretaria Estadual de Saúde direcionar os demais pacientes para atendimento em outros hospitais públicos referenciados”.
O Diário entrou em contato com a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde sobre o assunto. Entretanto, até o fechamento desta reportagem, não obteve retorno. Questionada também sobre a lista de espera do Husm, a SES se manifestou por meio de nota. Leia na íntegra:
“A entrada dos pacientes ocorre por meio da primeira consulta regulada, pelo Sistema Gercon, por reguladores da 4ª Coordenadoria Regional de Saúde. Atualmente, temos uma ocupação de 70% da oferta das consultas de radioterapia no Estado. Ressaltamos que no momento não temos conhecimento das filas internas das unidades. O tempo médio de espera para atendimento é em torno de 10 dias”.
Equipamento
O envio de um novo acelerador linear de radioterapia para o Husm foi anunciado ainda em 2014. Para isso, além da contratação de mais profissionais, a ordem de serviço para a construção de uma sala especial com blindagem para radiação foi assinada em julho de 2016, passando por duas licitações após rompimentos de contratos.
Conforme o Husm, “o equipamento está instalado, em fase de testes e treinamento”. No final de agosto, uma comitiva da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), responsável pela gestão do hospital escola, esteve em Santa Maria. Na oportunidade, o presidente da instituição, Arthur Chioro, explicou o processo ao Diário:
– Todo o equipamento de radioterapia é diferente. Não basta ligar na tomada. Ele possui uma exigência técnica por ligar com o tipo de energia que pode colocar em risco tanto os trabalhadores, quanto os pacientes. É preciso ter um grau de segurança muito grande. Então, há todo um conjunto de procedimentos que são necessários para a implementação. Nós estamos vendo a chegada de máquinas de radioterapia novas em vários hospitais da rede Ebserh em todo país e em todas,temos o mesmo problema: a necessidade de entrar em funcionamento, mas também a obrigação de cumprir, criteriosamente, cada uma das etapas, que termina com a aprovação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Etapas
Ainda conforme Chioro, o não cumprimento das etapas poderia inclusive colocar em risco as instalações físicas da instituição, acarretando no fechamento do outro acelerador linear de radioterapia que está em funcionamento.
– Em hipótese alguma, na medida em que precisamos acelerar, deixaremos passar qualquer etapa de segurança e de cumprimento das habilitações técnicas necessárias. Nesse sentido, só podemos de fato fazer cada procedimento no tempo mais breve possível, estando ao nosso alcance, e solicitar às autoridades sanitárias e de energia nuclear, que venham fazer a habilitação para poder disponibilizar esse serviço. Mas esperamos que até
o começo do ano que vem, mais tardar, tenhamos a possibilidade de colocar esse equipamento para funcionar e oferecer o serviço de tratamento do câncer para a população de Santa Maria e região – concluiu Chioro.